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Secretaria de Direitos Humanos

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terça-feira, 8 de junho de 2010

Editorial: Quem precisa de dossiês?


Feriados prolongados, quando as notícias geralmente escasseiam, são propícios àquilo que a gíria político-jornalística chama de "factóides", isto é, acontecimentos inventados para terem repercussão beneficiando seus autores.

A regra foi seguida neste Corpus Christie; a senha foi dada por uma reportagem publicada na revista Veja ("Ordem na Casa do Lago Sul", 2/6/2010) que difundiu, dentro do figurino em que a publicação se especializou, suposições e informações vagas sobre uma pretensa "fábrica de dossiês" que funcionaria no comando da campanha de Dilma Rousseff.

Provocou barulho ao longo da semana. E, ante as acusações levianas contra Dilma nas primeiras páginas dos jornais e na boca do próprio candidato oposicionista, a direção do Partido dos Trabalhadores decidiu interpelar o tucano José Serra na justiça, para que ele esclareça as acusações que fez contra a candidata do campo democrático e progressista. Mas há um significado no episódio. Ameaças de usar dossiês com "acusações" contra adversários políticos para desviar o curso do necessário debate político é uma prática de largo curso no campo conservador. O senador baiano Antonio Carlos Magalhães, expoente do campo da direita e um dos principais suportes do governo demo-tucano de Fernando Henrique Cardoso (do qual José Serra foi uma figura central), era conhecido por brandir "dossiês" contra seus adversários.

Acusações desse tipo já tiveram consequências devastadoras contra candidaturas promissoras à presidência da República. O exemplo mais notável é o dossiê pela mídia em fevereiro de 2002 com acusações contra a então pré-candidata do PFL à presidência da República, Roseana Sarney. Sua pré-candidatura foi demolida, com grande benefício justamente para o atual pré-candidato tucano à presidência da República, José Serra, que se tornou, com o afastamento de Roseana do páreo, o único candidato do campo conservador à eleição presidencial daquele ano. Mas não adiantou nada e Lula, naquele ano, foi o vencedor da eleição presidencial.

As acusações de uso de dossiês para criar situações constrangedoras para adversários políticos se sofisticaram e, agora, assumem a aparência defensiva de denúncia de autoria de dossiês. Uma prática que pode esconder a defesa antecipada contra revelações legítimas de procedimentos políticos que o tucanato preferia deixar no esquecimento.

Nesta semana, a revista CartaCapital revelou que o suposto dossiê noticiado por Veja pode ser, na verdade, um livro que o jornalista Amaury Ribeiro Jr. vai publicar, intitulado Os Porões da Privataria, com revelações sobre os bastidores da liquidação do patrimônio público brasileiro e a participação de José Serra e outros membros da cúpula tucana na venda das estatais durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

É tudo o que o pré-candidato tucano não quer. A recordação da atuação privatista no passado - que, aliás, não foi esquecida pelos brasileiros - pode ser explosiva para sua postução, que já enfrenta dificuldades crescentes. Elas vão desde a incapacidade em definir um candidato a vice, dando à pré-candidatura de José Serra um nítido aspecto de "meia candidatura", até a própria condução da propaganda política do candidato, contestada por notáveis demos e tucanos.

Nesta situação, quem precisa de dossiês e contra-dossiês? Certamente não é a pré-candidata do campo progressista, a ex-ministra Dilma Rousseff.

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